Quantas vezes não ouvimos essa pergunta ao
sugerir o apoio psicológico àquela pessoa que está enfrentando uma
grande dificuldade? Ou nós mesmos, diante do convite de algum amigo ou
conhecido, para que possamos enfrentar mais apropriadamente alguns conflitos e
questões do nosso dia a dia?
Pensando nisso, decidi
elencar alguns dos argumentos que comumente escuto quando sugiro apoio
psicológico (que não necessariamente significa psicoterapia) a alguém,
ou até mesmo quando tomo conhecimento de pessoas que também ouvem de seus amigos e/ou
familiares este tipo de resposta diante da sugestão para buscar esse tipo de
ajuda.
1.
Psicólogo é coisa de maluco. Eu não estou
maluco….
Particularmente, não
simpatizo com o termo “maluco”. É um termo muito utilizado para
designar pessoas que sofrem de alguma dificuldade mental, ou cujo
jeito de ser e agir fogem aos padrões de “normalidade” impostos por uma
sociedade. É um assunto que rende boas discussões… Mas a questão é: psicólogo é
coisa pra maluco? Eu ouso responder que SIM… e que NÂO! Se consideramos o
maluco como uma PESSOA – acima de tudo – e que independente de ser
diagnosticado com uma dificuldade mental qualquer, deseja apoio para melhor
orientar-se diante de suas questões e dificuldades, sim o psicólogo pode
ajudá-lo neste desafio. É importante lembrar que dependendo da natureza do
conflito, será necessário conjugar outros tipos de apoio: nutricional,
psiquiátrico, jurídico, assistência social… Porém, se o maluco em questão é a
expressão de um preconceito ou um esteriótipo para enquadrar pessoas que
apresentam um comportamento diferente daquele julgado “normal”, então
realmente, não atendemos malucos. Atendemos pessoas.
2.
Psicólogo!? Deus me
livre! Sou uma pessoa muito bem resolvida…
Esta expressão, ao meu
ver, também aparenta uma ponta de preconceito. Ser bem ou mal resolvido é uma
questão pessoal. E não é o(a) psicólogo quem vai dar o parecer sobre isso.
E eu pergunto: o que é ser bem resolvido? Seria ter uma posição firme e
responsável diante das questões diárias? Seria assumir a responsabilidade pelas
escolhas e lutar por elas, respeitando as diferenças? Seria aceitar-se como é,
reconhecendo suas fragilidades e possibilidades? Ou é passar por cima do
sentimento das pessoas, em nome de uma vontade ou em nome de uma dita
“autenticidade” que não considera princípios básicos da educação? Ou seria,
então, “jogar na cara” da sociedade o seu padrão de vida e crenças
sem conceder ao outro o direito de discordar ou de optar por outras escolhas?
Enfim, é preciso considerar que mesmo diante de uma boa fase da vida,
muitas vezes somos surpreendidos por acontecimentos que transcendem a nossa
vontade, como por exemplo a perda de um familiar ou de um amigo querido (e por
perda, não entendemos somente a morte, mas os afastamentos temporários e/ou
permanentes), ou uma proposta aparentemente irrecusável de trabalho ou
de relacionamento que nos fazem balançar, sem considerar com calma os riscos
que estão envolvidos…. Enfim, muitas são as situações que nos atravessam que
não necessariamente significam que estamos de mal com a vida ou conosco mesmos,
mas que despertam certas dúvidas e apreensões… e é nesta hora que o apoio
psicológico pode sim ser útil e até mesmo… libertador!
3.
Não preciso de alguém
dizendo o que tenho que fazer…
Não se preocupe. O papel
do psicólogo não é dizer o que as pessoas devem ou não devem fazer. Até mesmo
porque o psicólogo não vai estar o tempo todo ao seu lado, muito
menos vivendo a sua vida. Nosso papel é criar condições para que você possa
refletir e encontrar o melhor caminho, a melhor solução dentro das questões que
só você sabe o quanto significam… E isto não quer dizer que não sentiremos o
peso da dúvida, da angústia… e que não nos comoveremos até… Porém, estar junto,
estar no apoio não quer dizer, necessariamente, resolver o problema… muito
menos ser indiferente diante da dor de alguém…
4.
Não tenho paciência para terapia…
No início deste texto,
disse que nem sempre o apoio psicológico significa psicoterapia. Existem
psicólogos voltados para atendimentos breves, onde em algumas sessões
procura-se dar conta de questões focais. No nosso caso, o plantão psicológico
tem sido uma potente alternativa, que tem auxiliado diversas pessoas
na solução de conflitos pontuais, cujos desdobramentos em suas vidas atingem
proporções que nem podemos imaginar. E isso num bom sentido! Para saber mais
sobre o Plantão Psicológico, clique aqui ou aqui!
5.
Mas, para que serve a
psicoterapia?
A psicoterapia tem seu
valor e é importante saber suas características, para que seu pedido de
ajuda seja de fato atendido. Em termos científicos, podemos considerar que o objetivo
principal da psicoterapia é a mudança da estrutura da personalidade. E o
que isto envolve? Autoconhecimento! E autoconhecimento não é dizer: sou Ana
Paula, filha do Sr. Paulo e da D. Amália, moro no Rio de Janeiro, gosto de cinema,
de estudar (sim, eu gosto de estudar…), não como peixe e amo viajar. Óbvio que
isto faz parte da construção de uma identidade, mas conhecer-se vai muito mais
além. É um tipo profundo de reflexão que envolve reconhecer – e assumir – medos,
tendências, desejos, limitações… e também valorizar conquistas pessoais,
qualidades, virtudes. A partir deste reconhecimento é que será possível
elaborar estratégias para enfrentar e modificar hábitos e superar viciações de
comportamento, se esta for sua intenção. E isto não se faz em qualquer
ambiente, com qualquer pessoa. Um ambiente seguro, que permita a livre
expressão de si mesmo, com alguém capacitado a compreender, sem julgar e sem
determinar padrões de certo e errado – mas alertando para as contradições,
estimulando a tomada de consciência e a busca de alternativas diante das
questões da vida: é isto que a psicoterapia pode oferecer, dentre outra coisas.
É preciso coragem, reconheço, pois nem sempre é fácil estar frente a frente com
aquilo que somos de verdade. Porém, ao transpor a barreira do medo, da
autocondenação, entendendo e ao mesmo tempo soltando as algemas que nós mesmos
colocamos nos nossos pulsos, a recompensa é de fato, gratificante e
libertadora!
Espero que estas
reflexões tenham sido úteis, e que de alguma forma, possam servir de pontapé
para a busca – sem medo de ser feliz- daquele apoio que estava faltando na
vida.
Fonte: Guiavalqueire
Um comentário:
Olá. Adoro suas postagens. São sempre esclarecedoras, objetivas e muito relevantes. Abraços.
Ps.: Sempre as compartilho, pois acho imperioso dividir com os outros as coisas boas!
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